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Agilidade e o Assédio Moral no trabalho

22/12/16 - 5 minutos de leitura

Aqui vamos abordar o tema de ambientes de trabalho hostis para os indivíduos e como a agilidade desempenha um papel forte contra padrões que sustentam o Assédio Moral. 

Mas o que exatamente seria uma ameaça dentro de um ambiente de trabalho? Perder o emprego? Ficar sem salário? Não gostar do trabalho que faz? Receber um tratamento ríspido?

Alguns Exemplos

Alguns exemplos de frases ditas de um gestor para um funcionário:

“Estagiário só faz M****”

“Mas isso é muito fácil, até eu sei fazer!”

“Se você errar não posso confiar em você.”

“Aqui você tem que saber o seu lugar”

Você tirou a empresa da M**** e colocou na lama”

“Você não é nada aqui dentro”

“Não te pago pra pensar”

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Algumas frases são fortes e outras comuns, porém nada que você ache impossível de ser dito em um escritório. É assustador como isso acontece sistematicamente num ambiente tão importante com o ambiente de trabalho. Por isso, vamos falar um pouco sobre este ambiente antes de seguir em frente.

Qual o Valor do seu Trabalho?

O seu trabalho é de fato importante? O que importa nele para você?

Tirando a resposta mais óbvia que seria a manutenção financeira, para você, o que tem no trabalho que te torna humano?

Se procurarmos nas áreas de estudo que focam neste tópico como psicologia, sociologia ou filosofia, existem muitas ideias que sustentam que o trabalho ocupa uma parte fundamental na vida humana e na formação do indivíduo.

Vai muito além do salário, ou de como hoje a nossa sociedade se organiza.Tem a ver com realização pessoal, com sentir-se útil, encontrar sentido para os dias e um propósito para o futuro.

O trabalho constitui uma boa parte da nossa identidade.

Isto é simples de perceber quando somos apresentados a uma pessoa nova, ou quando perguntamos “quem é ele?” Quase sempre a resposta estará relacionada ao trabalho dela: “ele é desenvolvedor na empresa Xpto”, “ela é pediatra”. O trabalho diz muito sobre quem você é.

Max Weber abordou o tema em uma frase simples e bem conhecida: “O trabalho dignifica o homem.

Mas o que é exatamente dignidade? A etimologia da palavra resume bem: dignitas: “o que tem valor”

Portanto, o trabalho é uma atividade crítica para:

  • Formar a sua identidade.
  • Fomentar a sua dignidade.
  • Buscar o seu propósito.

Se o trabalho é tão importante assim, o que acontece quando ele não cultiva mas também ameaça esses pilares?

É como se de repente a comida te envenenasse, a água te desse sede ou sua própria casa não lhe protegesse da chuva. Estamos chegando na ameaça na qual gostaríamos de apontar os holofotes.

A Ameaça

Dado este contexto destrutivo, uma pergunta fundamental surge:

O que acontece com um ser humano quando ele perde a sua identidade, valor e propósito?

Os sintomas psicológicos mais conhecidos são estresse, ansiedade e depressão. Levando a argumentação para um lado extremo, podemos dizer que, de certa forma, o indivíduo se torna menos humano. Abaixo, estão alguns comportamentos que são observados:

  • Inércia: Faz com que a pessoa não reaja às situações, não procure ajuda ou, por exemplo, não mude de emprego. Isso pode acontecer inicialmente por algum medo ou segurança em achar que dá pra aguentar a pressão o que no fundo a deixa com uma paralisia moral.
  • Personificação: As ofensas acabam sendo aceitas pelo indivíduo. Ele acaba acreditando que de fato é ruim em determinada atividade ou que nunca está apto para cumprir qualquer tarefa, estimulando-o assim a se anular.
  • Perda de identidade: Juntando os dois itens acima, podemos chegar em um cenário em que o indivíduo e o papel que ele exerce se tornam uma coisa só. É como se ele não existisse fora do contexto de trabalho, sendo exatamente o que faz, faz tudo que lhe é atribuído, não questiona. Ele acaba se tornando um móvel, um recurso, uma máquina para a empresa onde trabalha.
  • Suicídio: O último comportamento em cenários mais graves é recorrer a medidas desesperadas buscando o alívio por trás da ideia de deixar de existir por completo.

Assédio Moral

Todo esse padrão de comportamento prejudicial no ambiente de trabalho são característicos do assédio moral.

Este termo pode ser visto com alguns preconceitos, sendo muitas vezes ignorado por completo ou abordado por uma ótica simplista e prática. Se já aconteceu com você, seria muito simples e ingênuo acreditar que a culpa está exclusivamente no seu agressor, mas ele, assim como você, é apenas um ator na cena que constituiu o assédio.

Em geral não se trata de um problema isolado dentro de uma empresa, mas sim de toda uma cultura deteriorada que dá base para que isso aconteça. Investigando características culturais com mais proximidade é comum encontrar itens como:

  • Lucro a qualquer custo;
  • Prazos rigorosos;
  • Punição por não alcançar meta;
  • Ritmo de trabalho insustentável;
  • Assédio como forma de gestão;
  • Excesso de controle;

Como você deve imaginar esse problema é global e visível em empresas de qualquer setor.

A socióloga Valquíria Padilha tem um caso de estudo no setor bancário que diz:

em 2013, 66% dos bancários relataram sofrer assédio moral no trabalho. 80% destes passaram por situações constrangedoras no trabalho pelo menos uma vez por semana. Em 2009, houve uma tentativa de suicídio por dia no setor bancário.

A maior causa de assédio moral é a pressão por metas.

O maior problema dessa maneira de gerir não é a eficiência baixa, mas sim a morte de pessoas.

Onde entra a Agilidade

A agilidade forma uma cultura inovadora voltada para o trabalho. Seus valores e princípios estão descritos no manifesto ágil e surgiram no contexto de desenvolvimento de software.

Em ambientes de trabalho que já tem um mindset ágil, não deveria existir espaço para casos de assédio moral.

Você acha possível uma empresa ter a cultura ágil mas ainda existir assédio moral dentro dela?

Caso ache possível, será que essa empresa pode estar usando práticas ágeis que são ótimas para o negócio e produtivas para a operação mas estar sendo relapsa em um assunto de igual importância para a agilidade?

Uma ideia comum vista na agilidade é a de que felicidade é mais importante que valor, já que o próprio valor para o negócio, em geral, implica em proporcionar felicidade para algum cliente. E entregar felicidade sem ter felicidade internamente é algo improvável.

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Não deveríamos estar buscando: Individuals and interactions over whatever?

Existe algo mais relevante na agilidade do que eficácia no processo produtivo. Entregar valor é uma otimização local. O maior benefício é como mudamos a relação das pessoas com o trabalho.

Ferramentas ágeis

E agora? O que pode ser feito?

Com algumas ferramentas e práticas ágeis temos soluções diretas contra a cultura do assédio moral.

Management 3.0

Uma coleção grande de práticas de gestão que se contrapõem à cultura de comando e controle e traz diversas práticas como por exemplo: Delegation Board, Moving Motivators e Meddlers.

Kanban

Uma ferramenta que pode evidenciar gargalos no processo, e por ter a cultura Lean no seu core, traz uma visão diferenciada sobre as entregas, e deixam mais claros os propósitos de todos envolvidos na cadeia de valor. Kanban também aborda o tema da alocação 100% e como ela é fortemente desaconselhada.

OKR

Notoriamente usado pelo Google, trata-se de um modelo de como organizar metas de uma forma mais concreta, objetiva e inclusiva, se contrapondo à modelos opressores de cobrança e que em geral não levam a empresa a lugar nenhum.

O tema pode parecer distante da nossa rotina, ou até inexistente, mas por ser ainda um tabu faz dele um problema silencioso. Entendo que agilidade tem proporcionado uma mudança drástica na relação das pessoas com o trabalho e, certamente, é um caminho que deve ser experimentado em todas as empresas que sofrem dessa doença.

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Escrito por

Daniel Teixeira


Bacharel em física pela UFRJ. Possui mais de 10 anos trabalhando com desenvolvimento de software e é Agile Coach desde 2010. Criador de diversas dinâmicas de facilitação e referência na comunidade ágil.
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