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Mamãe, posso trabalhar com você?

03/04/20 - 7 minutos de leitura

Fomos todos escalados como protagonistas da 1ª temporada da série “COVID-19: o vírus que desligou o mundo”. Em plena crise pandêmica, está declarado que o mundo é totalmente flat. A Terra é plana. Estamos mais interconectados e interdependentes do que nunca, sentindo todos os efeitos possíveis de uma epidemia como essa. Real oficial. Um vírus que começou lá na China, se instaurou e se espalhou numa velocidade incontrolável.

E agora mandaram a gente para casa. “Fiquem em casa, evitem aglomerações e locais fechados. Lavem as mãos incessantemente, usem álcool gel, não toquem o rosto. Evitem
deslocamento, liberem seus funcionários ou botem o home office para todos”. Tá. Entendi. É que a vida não para, né? Não pode parar. As contas continuam chegando, os impostos não dão um sossego, as obrigações estão lá, bonitinhas olhando para a gente que nem o gatinho do Shrek. Sem contar o Imposto de Renda tá galera, não esqueçam dele, deadline tá chegando já, já. Bom, beleza, aí vamos nós. Bora fazer home office então, claro. O mundo inteiro foi pro universo remoto, e faz todo sentido para conter a propagação desenfreada do Corona. #fiquememcasa

Mas… peraí. Opa, opa, opa. Tem algo que eu não tinha me ligado aqui nessa dinâmica.
Vejamos: eu tenho um filho de 2 anos e meio, o Henrique. Quem tem ou já teve filho nessa idade, sabe que eles são um vulcão em erupção, cheios de gás e energia para gastar. É uma fonte inesgotável! Ele vai para a escola de manhã, gasta um montão de energia e, à tarde, fica com a babá até a hora que eu ou meu marido chegamos do trabalho. Mas bem, todas as pessoas foram mandadas para as suas casas. As escolas fecharam. Portanto, senhores, já entenderam o cenário, certo? É caótico? Sim, é caótico. É uma zona sem rotina organizada? Sim, é uma zona sem rotina organizada.

Estamos apenas nos primeiros dias. Mas e agora, meu pai do céu? Faz como para trabalhar,
dar conta das demandas atuais, atender cliente? Não perder contrato quando o mundo indica o oposto, não pensar na saúde do negócio quando o mundo avisa que a economia vai adoecer também, manter as pessoas produtivas, motivadas e colaborando umas com as outras? Adicione-se a isto, uma criança em volta de você o dia inteirinho querendo atenção. Porque, salvo alguns casos, muitos de nós estamos fora o dia todo trabalhando… é natural que elas queiram nossa atenção.

Contexto atual montado, juntamente com a nossa cabaninha aqui na sala de casa, achei que valia a pena compartilhar um pouco da minha experiência fazendo home office com filho pequeno em casa. Quem sabe ajuda alguns pais e mães por aí, leitores do nosso blog? 😊 Sei que cada idade tem uma necessidade, então lembrem que estamos falando dos menorzinhos, que geralmente demandam e dependem mais da gente do que os mais crescidos.

Seja empático com os pequenos e veja o mundo da perspectiva deles.

Tudo bem, você é pai ou mãe, e precisa dar conta do trabalho para ter uma vida boa, manter a casa, a escola das crianças, fazer mercado, etc. Além disso, muitos sortudos por aí, assim como eu, gostam dos seus trabalhos, fazem algo que traz realização pessoal e profissional. Enfim, motivos não faltam para a gente se envolver com um trabalho. No entanto, os pequenos ainda não acessam esse tipo de informação, não racionalizam essas necessidades mundanas, tal qual “pagar boletos” – ainda bem, porque uma hora a vez deles vai chegar! Bem, enquanto essa hora não chega, eles nos veem em casa e é aquela alegria, aquele grude. Principalmente dos menorzinhos, que ainda nos enxergam como referências e ainda dependem muito de nós. Lá em casa é um tal de “mamãe, vamos brincar de carrinhos e dinossauros?” ou então “mamãe, vamos montar a fazendinha?”. Nesses tempos onde trabalho, conference calls, e-mails, rotina, atividades domésticas, filhos e família estarão completamente misturados dentro no mesmo metro quadrado, com uma bela pitada de clausura e loucura, temos que praticar esse valor que às vezes esquecemos de exercitar com os filhos – a empatia.

Vamos lembrar que eles não têm clareza do que é uma pandemia, não tem ideia do que significa “desligar o mundo” por algumas semanas, sem exatamente desligar todo o restante que acontece dentro de casa. Então, o ponto aqui é: abaixe na pouca altura deles, dê um abraço bem forte seguido de muitos beijos, veja o mundinho deles daquela alturinha. De repente, do dia para a noite, os pais passaram a ficar em casa 24h. Para o seu filho, você está à sua inteira disposição para montar cabana, andar de bicicleta, desenhar, fingir que é o monstro da cosquinha, etc. Portanto, na hora do desespero, respire fundo duas vezes e tenha paciência – eles vão precisar e você também!

Home office com filhos requer disciplina e rotina.

Já trabalho de home office há muitos anos e vejo que trabalhar de casa, ou de qualquer lugar que seja, é idêntico a um dia de trabalho no escritório, só que com muitas vantagens envolvidas: não ter que acordar super cedo para chegar no trabalho; não enfrentar transporte público cheio nos horários de pico; comer a comidinha de casa que geralmente é mais saudável; trabalhar de qualquer lugar; entre outras vantagens. Basicamente, bastava ter uma internet legal. Fora aquele episódio clássico que todo mundo que está acostumado a trabalhar de casa já passou um dia na vida – levanta a mão aí quem já acordou 5 minutos antes do primeiro call do dia, em um dia de home office? Levantou correndo e conectou, né. #seibem.

Só que aí você tem filhos agora. Acordar em cima da hora para começar a trabalhar com os pequenos em volta não funciona muito bem! Aprendi que para fazer home office implica em ter mais disciplina ou uma rotina mínima para fazer funcionar. Acordar com calma antes de começar as atividades do dia, dar uma atenção para os pequenos, trocar de roupa, ter um cantinho próprio para trabalhar ajuda demais para “set the stage”! Eu não estou saindo de casa, mas o discurso para o Henrique sempre foi algo do tipo: “Filho, eu vou trabalhar agora. Daqui a pouco eu venho te dar um beijo e brinco um pouco com você, tá bom? Até já!”. Rituais de “despedida” sempre me ajudaram, ainda que eu estivesse apenas na porta ao lado. Sempre vinham acompanhados de choro, óbvio, porque eu fechava a porta do meu quarto e lá ficava até a próxima saída. #fazparte

Santo revezamento.

Vou começar dizendo que isso aqui é C-R-U-C-I-A-L nesse momento em que estamos todos vivendo a quarentena. Não há santo que dê conta de tudo (demandas do trabalho + demandas da casa + demanda dos filhos) ao mesmo tempo. Sei que não é a realidade de todos ter alguém para revezar as atividades e atribuições que vão chegando, mas, se rolar um companheiro(a) presente, um tio, tia, uma madrinha, padrinho ou vizinho chegado que possam passar a quarentena com você, com certeza ajudará a dar um respiro nos turnos de revezamento.

Te conto o exemplo lá de casa: meu marido e eu temos full time jobs. Os avós fazem parte do grupo de risco e preferimos deixá-los em casa e não contar com a ajuda deles. Nos organizamos da seguinte forma: todo dia de manhã ele trabalhava. Tentava priorizar as coisas mais importantes para entregar naquelas horinhas sagradas enquanto eu ficava com o Henrique. À tarde, era a minha vez, na mesma batida – priorizar, priorizar e priorizar as entregas do meu “turno”. Eu me sentava na frente do computador e me perguntava: qual a coisa mais relevante, urgente e de maior valor para concretizar naquele dia? Qual minha melhor ação nesse momento?

Agora, se você não tem ninguém para revezar, nenhuma almazinha junto contigo neste momento, e está no esquema mãe/pai solteiro, talvez valha a pena reler o último parágrafo do ponto 1 acima e seguir no ponto 4 abaixo. Talvez ajude.

Faça mais intervalos.

Intervalos durante o dia para dar uma olhadinha no que está rolando em casa podem ajudar muito! Quando o nosso filho sabe que estamos em casa, é um Deus nos acuda por atenção, e aí rola aquela batida insistente na porta do quarto onde estamos. Aqui em casa o Henrique manda assim: “vou trabalhar com você, mamãe! Mas eu vou ficar quietinho.” #sqn Então, brincar de “T-Rex atrás do neném” entre um email e outro, ou contar uma historinha na cabana da sala entre um call e outro pode ajudar bastante a deixá-los tranquilos de que você está ali e está com eles sempre que possível. Nesse caso, um pouco de atenção plena e focada neles acalma os ânimos no ambiente.

Esses dias vão ser loucos, eu sei. Vamos ficar mais do que nunca com a sensação de que estamos devendo para o cliente, empresa, nossa família, e para a nossa conta bancária. E para nós mesmos. Porém, vamos novamente colocar as coisas em perspectiva, porque nessa 1ª temporada da série nada vai ser ou estar em seu estado normal, muito menos você. Então não tenha a ilusão de que você vai trabalhar num ritmo normal, entregar todas as suas atividades em dia, estar super atento nos calls, ser bem participativo no dia a dia da casa e do seu relacionamento e dar aquela atenção bacana para as crianças. São tempos desconhecidos para todos nós. Portanto, teremos que recalcular a rota, repriorizar nossas ações mais do que nunca, fazer as devidas adaptações em nossas vidas e encontrar novos limites. #trueagilenaveia

Lembrem-se apenas de uma coisa, mães e pais leitores – isso tudo vai passar. Portanto, segurem firme e apertem o cinto! Lá na frente, quando a gente falar desse momento histórico, vamos ter muita lembrança engraçada para contar e, provavelmente, ainda vamos dar algumas risadas disso tudo. Até lá, que a gente mantenha a calma, respire fundo nos dias de insanidade, saiba priorizar e fazer bom uso de poucas horas efetivamente produtivas no dia, elimine as reuniões desnecessárias e troque por uma simples mensagem, e tenha criatividade suficiente para entreter os pequenos nesta temporada indoor. Juntos somos mais fortes! Ninguém solta a mão de ninguém. Bem, quer dizer, em tempos de álcool em gel em falta na farmácia, melhor não. Se cuidem e lavem as mãos!

Fernanda Agile Expert na K21 com o seu filho ao colo mexendo no laptop.

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Escrito por

Fernanda Magalhães

Agile Expert e Trainer na K21


Atravessei o portal da agilidade em 2011. Do lado de cá, eu olhava pro lado de lá, e me questionava porque não estávamos todos juntos nesse novo mundo que estava logo ali! Desde então, comecei a me dedicar, estudar, experimentar e a ajudar as pessoas a fazer a travessia, pouco a pouco. Porque do lado de cá tem uma energia única, alguma mágica acontece. E eu não podia guardar isso só pra mim. E aí, bora atravessar?
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