Daniel Pink, em seu livro “Drive: the surprising truth about what motivates us”, de 2009, compartilha o resultado de estudos que mostram que a motivação do trabalhador pode funcionar de um jeito muito diferente do que imaginamos.
Quando o trabalho requer apenas habilidades básicas, mecânicas, como uma série de passos com um resultado único, os bônus funcionam conforme esperado: quanto mais se paga, melhor o desempenho. Mas quando o trabalho requer habilidades cognitivas, tomada de decisão ou criatividade, mesmo que um mínimo, uma recompensa maior pode levar a um desempenho pior (Dan Ariely, na reportagem “What’s the value of a big bonus?” do New York Times).
A melhor forma de utilizar o dinheiro é pagar o suficiente para que o dinheiro não seja mais um problema, e assim o trabalhador passa a pensar no trabalho em si. A partir daí, os principais motivadores são autonomia, maestria e propósito:
- autonomia: o desejo natural de dirigirmos nosso próprio trabalho e nossas vidas. Enquanto que o controle pode levar a uma maior conformidade, a autonomia leva a um maior engajamento;
- maestria: o desejo de nos tornarmos cada vez melhores em algo que importa;
- propósito: o anseio de fazermos o nosso trabalho conectado a algo significativo, a serviço de algo maior que nós mesmos. É parte disso entendermos o porquê de nosso trabalho e sermos capazes de reconhecer qual a nossa contribuição;
Pink define, dessa forma, o que ele chama de Motivação 3.0, em que a motivação intrínseca é muito mais importante do que a motivação extrínseca para que aumentemos o desempenho e a satisfação no trabalho.
Se você ainda não viu, um vídeo animado com uma apresentação de Pink sobre o assunto pode ser visto aqui.
Interessante observarmos como Scrum se conecta bem a esses três elementos:
- a autonomia está diretamente presente no trabalho de times auto-organizados;
- a maestria é estimulada a partir da melhoria contínua, fator fundamental do Scrum, e destacada no princípio Ágil “a atenção contínua à excelência técnica e a um bom projeto aumentam a agilidade”. Também é estimulada no time multifuncional, em que um acaba aprendendo com o outro;
- o propósito está sempre claro ao criarmos, em ciclos curtos, algo de ponta a ponta que visa gerar valor para clientes e usuários. Esse foco no propósito é reforçado pelo feedback frequente, pelas entregas contínuas e pelas metas de valor estabelecidas como parte do trabalho (como, por exemplo, a Meta do Sprint).
Scrum é desenhado para esse tipo de trabalho – o trabalho do conhecimento. Autonomia, maestria e propósito, portanto, talvez possam ser tratados como os principais elementos motivadores para membros de Times de Desenvolvimento com Scrum.
ARIELY, D. What’s the value of a big bonus?. New York Times, nov. 2008. Disponível em <https://www.nytimes.com/2008/11/20/opinion/20ariely.html>. Acesso em 10 ago. 2018.
PINK, D. H. Drive: the surprising truth about what motivates us. New York: Riverhead Books, 2009.