Após Eric Ries publicar o livro A Startup Enxuta em 2011, o termo Minimum Viable Product (Produto Mínimo Viável – MVP) se popularizou. Várias empresas começaram a adotá-lo como forma de desenvolver seus produtos.
Agora você pode ouvir este conteúdo sobre MVP. Dê o play!
Todavia, quando um termo se torna muito popular, ele acaba se transformando em uma buzzword. Um chavão em que as pessoas transformam tanto a ideia original que ela acaba guardando poucas ou nenhuma referência do conceito original.
O que é MVP
“MVP é a versão do seu produto que possibilita realizar o ciclo de Construção, Medição e Aprendizagem com o menor esforço e o menor tempo de desenvolvimento possível. O Produto Mínimo Viável carece de muitas funcionalidades que podem ser essenciais para a continuidade do produto.”
(Lean Startup, Eric Ries, 2011, tradução livre)
O objetivo primário de um MVP é validar ou invalidar o mais rápido possível uma hipótese de solução de um problema de negócio.
Um ponto bem importante sobre o MVP é que ele não é um produto feito de qualquer jeito, sem qualidade e que pode “quebrar” no primeiro uso. Ele é um produto enxuto, mas completo.
Se o MVP for colocado na mão do consumidor, ele recebe o mesmo nível de qualidade do produto final. Porém como seu objetivo é testar uma hipótese, fatalmente ele não terá todas as funcionalidades de um produto final.
E se a hipótese de negócio for invalidada? Em seu livro Eric Ries fala sobre pivotagem e descarte de ideias.
Se quiser saber ainda mais sobre isso e experimentar o ciclo completo de invalidação de ideias, participe do nosso treinamento de Certified Scrum Product Owner (CSPO).
Exemplos de MVP
Abaixo escrevo sobre três cases de bom uso de um MVP. Existem diversos outros, mas acho esses muito interessantes.
EasyTaxy
Durante a QCon do Rio de Janeiro em 2015, Vinícius Gracia apresentou o caso da Easy Taxi e como eles utilizaram o MVP para validar suas hipóteses.
A primeira hipótese que eles tinham era: Será que as pessoas pediriam táxi por um aplicativo de celular? Eles fizeram um aplicativo mínimo no qual a pessoa poderia pedir um táxi no Rio de Janeiro.
Um detalhe importante é que só a interface do App que faz a solicitação foi desenvolvida.
Quando alguém fazia um pedido, os sócios da Easy recebiam um alerta e eles tinham rapidamente que procurar o telefone de uma cooperativa de táxi próxima ao solicitante, ligar, pedir um táxi para ela.
Quando o número de solicitações atingiu uma quantidade que eles acreditavam ser razoável, eles consideraram a hipótese validada e prosseguiram com o desenvolvimento do produto.
Veja a história completa neste link: EasyTaxi: escalando um app e uma ideia para 4 continentes e milhões de solicitações.
Goat Simulator
Imagine que você é o diretor de uma empresa que produz jogos eletrônicos e um dos seus desenvolvedores chega perto de você e fala: Chefe, vamos desenvolver um jogo de simulação no estilo GTA (Grand Theft Auto).
Só que em vez de ser uma pessoa, a pessoa será uma cabra e viverá como uma cabra.
A princípio pode ser uma ideia ridícula. No papel de gerente você facilmente poderia negar esse pedido ou formulá-lo como uma ideia de negócio: Será que as pessoas gostariam de viver como uma cabra em um mundo virtual?
Em 2014, Armin Ibrisagic da Coffee Stain Studio resolveu criar em um mês o mínimo necessário para ter um jogo em que a pessoa simulava ser uma cabra passando por diversas aventuras e desventuras.
Ele fez o upload de alguns vídeos no Youtube e acompanhou quantas vezes o vídeo era visualizado, quantas curtidas, compartilhamentos e comentários.
Quando atingiu um determinado número, Armin se sentiu confortável para criar um jogo completo.
Se você achou a ideia original totalmente sem noção, saiba que o jogo foi lançado no dia 1º de abril (que ironia) e em agosto já tinha vendido mais de 1 milhão de cópias ao preço de US$ 13,00 cada.
O jogo é vendido até hoje (2019) a US$ 9,99 cada cópia e já foi portado para consoles como XBox One, Playstation 3 e 4, Nintendo Switch e PC, além de ter até cópias físicas vendidas em loja.
Mais sobre essa história neste link (em inglês).
Plugmeter
Você reparou que a conta de luz tem aumentado significativamente? Você gostaria de saber qual aparelho é o vilão do consumo do seu lar?
Pensando nessas perguntas, um grupo de alunos do curso de Ciências da Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) resolveu criar um produto que resolvia exatamente esse problema.
O Plugmeter era um aparelho que funcionava como uma extensão ligada à rede elétrica.
Na outra ponta você plugava o aparelho que você queria medir e ele te dizia quanto o aparelho medido estava gastando por hora que permanecia ligado.
Todavia, construir um produto para isso pode ser custoso e eles não sabiam se as pessoas teriam interesse em adquiri-lo.
Então eles criaram uma página bem simples com uma imagem do “produto” feita no photoshop e um botão “compre aqui”.
Quando clicado só disponibilizava o registro de nome e e-mail para interesse futuro.
Pagaram US$ 20,00 em propaganda no Facebook Ads e mediram quantas pessoas clicavam no botão “compre aqui” e preenchiam o formulário de interesse.
Em uma semana o botão foi clicado e centenas de pessoas preencheram o formulário. Validada a hipótese, partiram para a construção do produto.
O case é melhor contado neste link (em inglês).
O que MVP não é
Infelizmente o termo se perdeu com o tempo e muitas empresas perderam o contato com o conceito original. Já vi lugares que usam um ciclo de três a seis meses para produzir um MVP.
Isso é muito tempo para validar uma hipótese. Vamos ver o que o MVP não é.
Protótipo
Protótipo normalmente é criado para testar características técnicas de um produto.
Uma vez validada essas características, o protótipo é descartado e um produto é construído levando em consideração os resultados do protótipo.
Já o MVP não tem como característica ser descartado depois do experimento. Você pode testar outras hipóteses, evoluí-lo e ele pode se tornar o seu produto final.
Fase do projeto
Muitas empresas tratam o MVP como a fase de um projeto e já tem um modelo bem definido de entregas. No primeiro trimestre entregaremos o MVP 1, no segundo o MVP 2, no terceiro o MVP 3 e no quarto trimestre o MVP 4.
Isso não é um MVP. São só as fases de um projeto que provavelmente tem um escopo fechado. Nesses casos não há hipóteses sendo testadas de três em três meses. Só certezas.
Demorado
Pegando um pouco do subtópico anterior, um MVP não pode ser demorado. Se demora muito, significa que você ou só tem certezas ou quer validar muitas hipóteses ao mesmo tempo.
Isso é contrário inclusive ao método científico de Experimento.
O MVP deve testar a hipótese de maior risco que pode invalidar totalmente o seu produto. Uma por vez. Lembre-se que você não precisa divulgá-lo para todos os seus clientes ao mesmo tempo.
Você pode escolher uma população estatisticamente significativa e disponibilizar o MVP para elas enquanto você coleta métricas que avaliam sua hipótese.
Produto terminado
Obviamente o MVP não é a primeira versão de um produto. Se todos estão orgulhosos pelo produto que está está sendo entregue porque ele está completo, mal sinal.
Você provavelmente construiu coisa demais e pode ser que seu produto não obtenha o retorno esperado inicialmente.
Produto sem métrica
Se você quer validar uma hipótese, quais os números que comprovam que seu MVP teve sucesso ou foi um fracasso? Quantidade de clientes adquiridos, retidos, compras realizadas, churn, formas de uso, satisfação.
Tudo tem que ser medido em um MVP, caso contrário você terá um experimento que não pode ser validado.
Conclusão
Apresentamos neste artigo o que é um MVP, demos alguns exemplos e falamos também sobre alguns equívocos que encontramos no mercado.
Convido mais uma vez para participar do nosso treinamento de CSPO em que você vai aprender e experimentar o ciclo de Construção, Medição e Aprendizagem, além de aprender diversas técnicas para se tornar um bom Dono do Produto.
Também te convido a participar do nosso treinamento de Métricas Ágeis para Produtos, Times e Organizações no qual você aprenderá sobre as métricas que você precisa medir no seu MVP.