Ser gestor não é uma tarefa fácil. Se você desempenha esse papel, sabe que isso não é fácil. Suas atribuições envolvem desenvolver pessoas e gerar resultados para a organização.
Esse artigo está focado na primeira atribuição. Por vezes, achamos que damos autonomia suficiente ao nosso time, mas somos interrompidos o tempo todo para resolver problemas.
Será que estamos vivendo o Paradoxo do Capitão Planeta?
O Desenho do Capitão Planeta
Se você foi criança no início dos anos 90 e gostava do desenho do Capitão Planeta, pode ir para a próxima seção do texto.
O desenho foi produzido inicialmente pela DIC Enterprises (1990 até 1992) e posteriormente pela Hanna-Barbera Cartoons (1993 até 1996).
A história do desenho era a seguinte: o planeta Terra estava sofrendo com a poluição. Então, Gaia, o espírito da Terra, juntou cinco jovens de diversos continentes para compor o Time de Protetores com o propósito de defender a Terra dos poluidores.
Cada jovem tinha um anel que lhe dava o poder de manipular um elemento da natureza:
Membro | De onde vem | Poder |
---|---|---|
Kwame | África (Gana) | Terra |
Wheeler | América do Norte (EUA) | Fogo |
Linka | Europa, mais especificamente União Soviética (depois Rússia) | Ar |
Gi | Ásia (Tailândia) | Água |
Ma-ti | América do Sul (Brasil) | Coração (Comunicação com animais por telepatia e torna as pessoas mais bondosas) |
Quando os cinco poderes eram unidos, formavam o Capitão Planeta. Este, ao surgir falava o seu bordão: “Pela União de seus poderes, eu sou o Capitão Planeta!”. E era respondido pelos Defensores: “Vai Planeta!”.
Após resolver o problema ele sumia e falava seu segundo bordão: “O poder é de vocês!”
Como funcionam nossas organizações
Digamos que Gaia represente as nossas organizações. Ela buscou profissionais capacitados para desenvolver o trabalho e montou um time capaz de resolver os problemas (Os Defensores).
O Capitão Planeta representa os gestores da empresa. Ele dá “autonomia” aos seus liderados, tanto que repete inúmeras vezes o bordão: “O poder é de vocês!”.
Qual o paradoxo?
Se você se recorda do desenho, apesar do lema repetido em todos os episódios, quando o time esbarrava em um problema real não conseguia resolvê-lo sozinho.
Eles sempre precisavam do Capitão Planeta para solucioná-lo. Ou seja, o poder não era de fato dos defensores e sim do Capitão.
Autonomia flácida
Esse é um problema comum em diversas empresas. Os times têm uma autonomia que é insuficiente para resolver problemas rotineiros.
Se o problema se repete inúmeras vezes, a pergunta que o gestor (Capitão Planeta) deveria se fazer é: Por que eles estão me chamando o tempo todo para resolver coisas triviais?
A resposta pode se enquadrar em algum desses itens:
- Ambiente inseguro: pessoas com medo de errar e serem punidas;
- gestor centralizador de poder;
- falta de informações necessárias para a tomada de decisões e solução de problemas;
- falta de autorização;
- falta de políticas explícitas.
Como podemos começar a resolver esses problemas?
Ambiente inseguro
É o mais complexo dessa lista, pois envolve aspectos culturais que já permeiam a organização por anos, quiçá décadas.
Gestor, é seu papel promover essa mudança! Tornar a empresa um lugar agradável para as pessoas trabalharem é condição sine qua non para sobrevivência e lucratividade de empresas da economia do conhecimento.
A solução para esse problema não é simples, mas você pode começar a compreender como as pessoas estão se sentindo executando a dinâmica do Radar da Satisfação.
A partir daí, você terá uma base para saber no que você, enquanto facilitador, poderá investir.
Gestor centralizador
Há algum tempo os gestores acreditavam que ser um Super Gestor era centralizar o máximo de poder e decisões possíveis. Isso era funcional no século passado. Nos tempos atuais isso beira a loucura. Veja o artigo Líder Servidor: O que É e o que FAZ (e o que não é).
Para resolver esse problema: Gestor, o poder é seu!
Quando converso com pessoas centralizadoras, gosto de perguntar: Qual o seu próximo passo na carreira? Se você é indispensável no ponto em que está, jamais conseguirá subir. Afinal, você é “indispensável”.
Gosto também de acrescentar a pergunta que serviu muito a mim no papel de gestor. Ela foi feita pelo Samuel Cavalcante: Quem é que você está preparando para assumir o seu lugar quando você der o próximo passo na carreira?
Falta de Informações
Se o seu time não tem as informações necessárias, jamais terá autonomia real para tomar as decisões que você precisa.
Nas turmas de Métricas Ágeis gosto de reforçar: As métricas são do Time. Inclusive, ou melhor, principalmente as métricas de Eficácia do produto ou serviço: Qual receita tivemos? Qual o Lifetime value? Ticket Médio? Churn?
Tudo isso deveria ser respondido por qualquer um do time e não apenas as instâncias mais altas da organização. Sem elas, as decisões são baseadas apenas em sentimentos e esses geram o medo.
Falta de Autorização
Ao longo de anos fomos criando empresas em formatos de silos com especialistas do especialista do especialista. Agora percebemos o problema que isso gerou e a dificuldade que é criar um time multidisciplinar.
Se você é da área de Tecnologia da Informação, veja se você já não viveu esse problema: seu time quer colocar uma nova versão da aplicação no ar. Para isso, precisa acrescentar um campo na tabela de banco de dados. Só que o seu time não tem autorização para isso porque há um time de banco de dados que é o responsável por isso.
Você abre solicitação (ticket) para acrescentar um campo na tabela. A execução do trabalho demoraria menos de um minuto, porém o time de banco de dados recebe pedidos de diversos times e para eles, o seu é só mais um.
É provável que aquele único comando de banco de dados que demoraria menos de um minuto para ser executado fique aguardando por mais tempo do que levou para criar a funcionalidade inteira.
Quando criamos os silos, acabamos criando linhas de extrema especialização e isso fez com que um time não entendesse ou aprendesse o trabalho do outro. O impacto financeiro no mundo contemporâneo é enorme.
Não tem muito jeito. Temos que começar a quebrar esses silos. Veja se a dinâmica do Mapa de Competências pode te ajudar a começar a criar um time realmente multidisciplinar.
Uma outra forma de resolver o medo que gera o excesso de etapas de autorização é com automação. Hoje temos diversas ferramentas no mercado que nos permitem rapidamente recuperar nossos produtos e serviços de “erros”.
Falta de políticas explícitas
Muitas das vezes os limites até onde os times podem ir não são claros. O que é esperado? O que podemos fazer? Qual é a nossa autonomia?
Veja neste artigo em que abordamos esse tema: Queremos autonomia! Faça Delegação através do Delegation Board.
Conclusão
Nós acreditamos que no mundo atual precisamos de times que sejam realmente multidisciplinares.
Acreditamos também que a autonomia é essencial para que cada time tome decisões, preste bons serviços e torne as organizações bem sucedidas e com um espaço alegre para se trabalhar.
É fundamental que os gestores se tornem facilitadores, que possam dizer para seus liderados sem titubear: O poder é de vocês!